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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

NOTA EM VISTA DA RENÚNCIA DO SANTO PADRE

Em vista da renúncia do Santo Padre, o Papa Bento XVI, ao seu ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, eu, Dom Mauro Montagnoli, bispo diocesano de Ilhéus, dou algumas orientações práticas, para os sacerdotes e para o povo fiel, referentes aos períodos seguintes:

1. Período da Sé Vacante:
            Durante a Sé vacante, e especialmente durante o Conclave, recomendo instantemente que todas as comunidades façam orações e súplicas pela eleição do novo Romano Pontífice. Para tanto, pode ser tomado o formulário da missa “Pela eleição do Papa” (no Missal Romano em “missas e orações para diversas necessidades”).
            Considerando a utilidade pastoral, esta missa pode ser celebrada nos dias de semana da Quaresma, mas não nos domingos. Os sacerdotes saberão discernir sobre a oportunidade e sobre o uso moderado deste formulário no tempo da Quaresma.
Durante a Sé Vacante, na Oração Eucarística deverá ser mencionado apenas o nome do bispo.

2. Período posterior à eleição do novo Romano Pontífice:
            Anunciada a eleição do novo Romano Pontífice, sejam tocados, onde for possível, os sinos das igrejas, como manifestação de júbilo e acolhida ao novo pastor supremo.
            No período da Sé Vacante, a celebração diocesana “Pela eleição do Papa” será na Catedral, em Ilhéus, às 18 horas no dia 05 de março de 2013 . As paróquias façam sua programação própria.
            Anunciada a eleição do novo Romano Pontífice, igualmente, será divulgada a data da celebração diocesana de ação de graças. Do mesmo modo, as paróquias programarão suas celebrações.

Como Devem ser Proclamadas as Intercessões nas Orações Eucarísticas I, II e III

Na Oração Eucarística I:
            Nós as oferecemos pela vossa Igreja santa e católica: concedei-lhe paz e proteção, unindo-a num só corpo e governando-a por toda a terra. Nós as oferecemos também por nosso bispo Mauro e por todos os que guardam a fé que receberam dos apóstolos.
Na Oração Eucarística II:
            Lembrai-vos, ó Pai, da vossa Igreja que se faz presente pelo mundo inteiro: que ela cresça na caridade, com o nosso bispo Mauro e todos os ministros do vosso povo.
Na Oração Eucarística III:
            E agora, nós vos suplicamos, ó Pai, que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e a salvação ao mundo inteiro. Confirmai na fé e na caridade a vossa Igreja, enquanto caminha neste mundo: o nosso bispo Mauro, com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

ONDE ESCUTAR JESUS?


             
Entre todos os métodos possíveis de ler a Palavra de Deus está sendo revalorizado cada vez mais, em alguns setores cristãos, o método chamado lectio divina, muito apreciado em outros tempos, sobretudo nos mosteiros. Consiste numa leitura meditada da Bíblia, orientada diretamente para suscitar o encontro com Deus e para a escuta de sua Palavra no fundo do coração. Esta forma de ler o texto bíblico exige diversos passos. 
            O primeiro passo é ler o texto procurando captar o seu sentido original, para evitar qualquer interpretação arbitrária ou subjetiva. Não é legítimo fazer a Bíblia dizer qualquer coisa, tergiversando seu sentido real. Precisamos compreender o texto empregando todas as ajudas que tivermos à mão: uma boa tradução, as notas da Bíblia, algum comentário simples.
            A meditação implica um passo a mais. Agora trata-se de acolher a Palavra de Deus meditando-a no fundo do coração. Para isso começa-se por repetir devagar as palavras fundamentais do texto, procurando assimilar sua mensagem e torná-la nossa. Os antigos diziam que é necessário “mastigar” ou “ruminar” o texto bíblico para “fazê-lo descer da cabeça ao coração”. Este momento pede recolhimento e silêncio interior, fé em Deus que me fala, abertura dócil à sua voz.
            O terceiro passo é a oração. O leitor passa agora de uma atitude de escuta a uma postura de resposta. Esta oração é necessária para que se estabeleça o diálogo entre o crente e Deus. Não é preciso fazer grandes esforços de imaginação nem inventar belos discursos. Basta perguntar-nos com sinceridade: “Senhor, que queres dizer-me através deste texto? A que me chamas concretamente? Que convicção queres semear em meu coração?”
            Pode-se passar a um quarto momento, que costuma ser chamado de contemplaçãoou silêncio diante de Deus. O crente descansa em Deus, calando outras vozes. É o momento de estar diante dele, ouvindo apenas seu amor e sua misericórdia, sem nenhuma outra preocupação ou interesse.
            Por último, é necessário recordar que a verdadeira leitura da Bíblia termina na vida concreta e que o critério para verificar se ouvimos a Deus é nossa conversão. Por isso, é necessário passar da “Palavra escrita” para a “Palavra vivida”. São Nilo, venerável Pai do deserto, dizia: “Eu interpreto a Escritura com minha vida”.
 (Pagola, J. Antonio, O Caminho aberto por Jesus, Petrópolis, RJ: Vozes,2012,  p. 160-161)

ESCUTAR SOMENTE JESUS



            A cena é chamada tradicionalmente de “transfiguração de Jesus”. Não é possível reconstruir com certeza a experiência que deu origem a este surpreendente relato. Só sabemos que os evangelistas lhe dão grande importância, pois se trata de uma experiência que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.
            Num primeiro momento, o relato destaca a transformação de seu rosto e, embora venham conversar com Ele Moisés e Elias, talvez como representantes da Lei e dos Profetas respectivamente, só o rosto de Jesus permanece transfigurado e resplandecente no centro da cena.
            Ao que parece, os discípulos não captam o conteúdo daquilo que estão vivendo, porque Pedro diz a Jesus; “Mestre, como é bom estarmos aqui! Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Ele coloca Jesus no mesmo plano e no mesmo nível que os dois grandes personagens bíblicos. A cada um sua tenda. Jesus não ocupa ainda um lugar central e absoluto em seu coração.
            A voz de Deus vai corrigi-lo, revelando a verdadeira identidade de Jesus: “Este é meu Filho, o eleito”: aquele que tem o rosto transfigurado. Não deve ser confundido com os de Moisés ou Elias, que estão apagados. “Escutai-o”. E a ninguém mais. Sua Palavra é a única decisiva. As outras nos devem levar até Ele.
            É urgente recuperar na Igreja atual a importância decisiva que teve em seus inícios a experiência de ouvir, no seio das comunidades cristãs, o relato de Jesus recolhido nos evangelhos. Estes quatro escritos constituem para nós uma obra única que não devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos. 
            Há algo que só neles podemos encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco são biografias redigidas para informar detalhadamente sobre sua trajetória histórica. São “relatos de conversão” que convidam à mudança, ao seguimento de Jesus e à identificação com seu projeto.
            Por isso pedem ser ouvidos em atitude de conversão. E nessa atitude devem ser lidos, pregados, meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus em atitude de conversão começa a transformar-se. A Igreja não tem um potencial mais vigoroso de renovação do que aquele que se encerra nestes quatro pequenos livros.
(Pagola, J. Antonio, O Caminho aberto por Jesus, Petrópolis, RJ: Vozes,2012,  p. 156-158)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

CELEBRAÇÃO DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Venerados Irmãos, caros irmãos e irmãs!

Hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos um novo caminho quaresmal, um caminho que se estende por quarenta dias e nos conduz à alegria da Páscoa do Senhor, à vitória da Vida sobre a morte. Seguindo a antiquíssima tradição romana da stationes quaresimais, nos reunimos hoje para a Celebração da Eucaristia. Tal tradição prevê que a primeira statio tenha acontecido na Basílica de Santa Sabina na colina Aventino. As circunstâncias sugeriram reunir-se na Basílica Vaticana. Somos numerosos reunidos ao redor do Túmulo do Apóstolo Pedro também para pedir sua intercessão para o caminho da Igreja neste momento particular, renovando nossa fé no Pastor Supremo, Cristo Senhor. Para mim é uma ocasião propícia para agradecer a todos, especialmente aos fiéis da Diocese de Roma, neste momento em que estou para concluir o ministério petrino, e para pedir especial lembrança na oração.
As leituras que foram proclamadas nos oferecem ideias que, com a graça de Deus, são chamados a se tornarem atitudes e comportamentos concretos nesta Quaresma. A Igreja nos repropõe, antes de tudo, o forte chamado que o profeto Joel dirige ao povo de Israel: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos” (2,12). Sublinhamos a expressão “com todo o coração”, que significa do centro de nossos pensamentos e sentimentos, das raízes das nossas decisões, escolhas e ações, com um gesto de total e radical liberdade. Mas é possível este retorno a Deus? Sim, porque há uma força que não mora em nosso coração, mas que nasce do coração do próprio Deus. É a força da sua misericórdia. Diz ainda o profeta: “Voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (v.13). O retorno ao Senhor é possível como ‘graça’, porque é obra de Deus e fruto da fé que nós depositamos na sua misericórdia. Este retornar a Deus torna-se realidade concreta na nossa vida somente quando a graça do Senhor penetra no íntimo e o toca doando-nos a força de “rasgar o coração”. É ainda o profeta a fazer ressoar da parte de Deus estas palavras: “Rasgai o coração, e não as vestes” (v.13). Com efeito, também em nossos dias, muitos estão prontos a “rasgar as vestes” diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos por outros -, mas poucos parecem disponíveis a agir sobre o próprio “coração”, sobre a própria consciência e sobre as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e converta.
Aquele “voltai para mim com todo o vosso coração”, é ainda um apelo que envolve não só o particular, mas a comunidade. Ouvimos na primeira Leitura: “Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento, e a esposa, seu leito” (vv.15-16). A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na vida cristã. Cristo veio “para reunir os filhos de Deus dispersos” (cfr Jo 11,52). O “Nós” da Igreja é a comunidade na qual Jesus nos reúne juntos (cfr Jo 12,32): a fé é necessariamente eclesial. E isto é importante recordá-lo e vivê-lo neste Tempo da Quaresma: cada um esteja consciente de que o caminho penitencial não se percorre sozinho, mas junto com tantos irmãos e irmãs, na Igreja.
O profeta, enfim, se detém sobre a oração dos sacerdotes, os quais, com lágrimas nos olhos, se dirigem a Deus dizendo: “Não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem. Por que se haveria de dizer entre os povos: ‘Onde está o Deus deles?’” (v.17). Esta oração nos faz refletir sobre a importância do testemunho de fé e de vida cristã de cada um de nós e das nossas comunidades para manifestar a face da Igreja e como esta face seja, muitas vezes, deturpada. Penso especialmente nas culpas contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial. Viver a Quaresma em uma mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidade, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes.
“É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação!” (2 Cor 6,2).
As palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto ressoam também para nós com uma urgência que não admite ausências ou omissões. O termo “agora” repetido várias vezes diz que este momento não pode ser desperdiçado, ele é oferecido a nós como uma oportunidade única e irrepetível. E o olhar do Apóstolo se concentra sobre a partilha com a qual Cristo quis caracterizar sua existência, assumindo todo o humano até carregar o pecado dos homens. A frase de São Paulo é muito forte: Deus “o fez pecado por nós”. Jesus, o inocente, o Santo, “Aquele que não cometeu pecado”(2 Cor 5,21), carregou o peso do pecado partilhando com a humanidade o êxito da morte, e da morte de cruz. A reconciliação que nos é oferecida teve um preço altíssimo, o da cruz elevada sobre o Gólgota, sobre a qual foi pendurado o Filho de Deus feito homem. Nesta imersão de Deus no sofrimento humano e no abismo do mal está a raiz da nossa justificação. O “voltar a Deus de todo o coração” no nosso caminho quaresmal passa através da Cruz, o seguir Cristo sobre a estrada que conduz ao Calvário, ao dom total de si. É um caminho no qual se aprende cada dia a sair sempre mais do nosso egoísmo e dos nossos fechamentos, para dar espaço a Deus que abre e transforma o coração. E São Paulo recorda como o anúncio da Cruz ressoa em nós graças a pregação da Palavra, da qual o próprio Apóstolo é embaixador; um chamado para nós para que este caminho quaresmal seja caracterizado por uma escuta mais atenta e assídua da Palavra de Deus, luz que ilumina nossos passos.
Na página do Evangelho de Mateus, que pertence ao assim chamado Discurso da montanha, Jesus faz referência a três práticas fundamentais previstas pela Lei Mosaica: a esmola, a oração e jejum: são também indicações tradicionais no caminho quaresmal para responder ao convite de “voltar a Deus como todo o coração”. Mas Jesus destaca que seja a qualidade e a verdade da relação com Deus o que qualifica a autenticidade de cada gesto religioso. Por isso, Ele denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, as atitudes que buscam o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo ou ao “público”, mas ao seu Senhor, na simplicidade e na generosidade: “E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,4.6.18). O nosso testemunho então será sempre mais incisivo quando menos buscarmos nossa glória e formos conscientes que a recompensa do justo é o próprio Deus, o ser unido a Ele, aqui, no caminho da fé, e, ao término da vida, na paz e na luz do encontro face a face com Ele para sempre (cfr 1 Cor 13,12).
Queridos irmãos e irmãs, iniciemos confiantes e alegres o itinerário quaresmal. Ressoe forte em nós o convite à conversão, a “voltar para Deus com todo o coração”, acolhendo a sua graça que nos faz homens novos, com aquela surpreendente novidade que é participação à vida do próprio Jesus. Nenhum de nós, portanto, seja surdo a este apelo, que nos é dirigido também no austero rito, tão simples e ao mesmo tempo tão sugestivo, da imposição das cinzas, que daqui a pouco realizaremos. Nos acompanhe neste tempo a Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de todo autêntico discípulo do Senhor. Amém!
Benedictus XVI
Basílica de São Pedro
Vaticano
Quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

QUARESMA


Por ocasião do início deste tempo tão importante de oração e penitência na vida da Igreja que é a Quaresma, quero recordar as palavras do Santo Padre Bento XVI durante a Celebração da Quarta-feira de Cinzas há alguns anos:
“Hoje, e com esta Celebração Eucarística, vamos iniciar um caminho de verdadeira conversão para enfrentar vitoriosamente com as armas da penitência o combate contra o espírito do mal. Ao receber neste dia as cinzas sobre a cabeça, ouve-se mais uma vez um claro convite à conversão que pode expressar-se numa fórmula dupla: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”, ou “Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar”.
“Convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos”. Com estas palavras inicia a Primeira Leitura, do livro do profeta Joel  (2,12-18). O autor sagrado encorajar o povo eleito à conversão, isto é, a voltar com confiança filial ao Senhor dilacerando o seu coração e não as vestes. De fato, recorda o profeta, Ele “é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (2,13). Este convite do profeta também é válido para nós. Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado; encontrando o Senhor experimentamos a alegria do seu perdão.
São Paulo, na Segunda Leitura (2Cor 5,20-6,2), convida para nos deixarmos reconciliar com Deus em Cristo Jesus. “Aquele que não cometeu pecado – diz o apóstolo – Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5,21). Causa um forte impacto espiritual a exortação que dirige aos cristãos de Corinto: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”; e ainda: “Este é o tempo favorável, é este o dia da salvação” (5,20; 6,2).
No Evangelho (cf. Mt 6, 1-6.16-18), Jesus indica quais são os instrumentos úteis para realizar a autêntica renovação interior e comunitária: as obras de caridade (a esmola), a oração e a penitência (o jejum). São as três práticas fundamentais queridas também à tradição hebraica, porque contribuem para purificar o homem aos olhos de Deus Estes gestos exteriores, que devem ser realizados para agradar a Deus e não para obter a aprovação e o consenso dos homens, são por Ele aceitos se expressam a determinação do coração em servi-Lo com simplicidade e generosidade.
O jejum, ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte, certamente não nasce de motivações de ordem física ou estética, mas brota da exigência que o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da poluição do pecado e do mal; que o  eduque para aquelas renúncias saudáveis que libertam o crente da escravidão do próprio eu; que o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e ao serviço dos irmãos. Por esta razão, o jejum e as outras práticas quaresmais são consideradas pela tradição cristã “armas” espirituais para combater o mal, as paixões negativas e os vícios.
A este propósito, leiamos um breve comentário de São João Crisóstomo: “Como no findar do Inverno– escreve ele – volta a estação do Verão (no hemisfério norte) e o navegante arrasta para o mar a nave, o soldado limpa as armas e treina o cavalo para a luta, o agricultor lima a foice, o viandante revigorado prepara-se para a longa viagem e o atleta depõe as vestes e prepara-se para as competições; assim também nós, no início deste jejum, quase no regresso de uma Primavera espiritual forjamos as armas como os soldados, limamos a foice como os agricultores, e como timoneiros reorganizamos a nave do nosso espírito para enfrentar as ondas das paixões. Como viandantes retomamos a viagem rumo ao céu e como atletas preparamo-nos para a luta com o despojamento de tudo” (Homilias ao povo antioqueno, 3).
Dom Mauro Montagnoli
Bispo diocesano de Ilhéus