No domingo, dia 2 de dezembro,
iniciamos mais um ano litúrgico com o tempo do Advento.
Advento, ou o “dia da vinda”, é
um tempo de preparação para receber o Senhor que vem e se manifesta a nós. Sua
manifestação tem dois aspectos:
1. Sua manifestação em nossa carne ao nascer, e constitui a
sua 1ª vinda.
2. Sua manifestação em glória e majestade no final dos
tempos, e constitui a 2ª vinda.
Rezamos na oração do Prefácio I:
“Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno
plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele
virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que
hoje, vigilantes, esperamos”.
O tempo de advento tem dupla
estrutura: advento escatológico e advento natalício. O primeiro compreende o
tempo que vai do 1° domingo do advento ao dia 16 de dezembro; o segundo vai do
dia 17 a 24 de dezembro, que é o tempo de preparação mais imediata para a festa
do natal.
É importante compreender bem esta
distinção para se poder celebrar com mais proveito para a nossa vida espiritual
o tempo de advento. Infelizmente já estamos focados na festa do natal com todos
os enfeites, sons e cores e nos esquecemos da preparação do coração e da mente.
Sendo assim, devemos deixar para colocar os enfeites natalinos, inclusive a
montagem do presépio, para o tempo do advento natalício, depois do dia 16 de
dezembro.
"A celebração da vinda do
Senhor no tempo do advento vem ao encontro de nossa busca fundamental. Somos
seres de desejo, inacabados, sempre ‘em devir’, assim como a realidade social
e cósmica da qual fazemos parte. Elementos rituais próprios deste tempo
litúrgico expressam e nos ajudam a incorporar esta dimensão do mistério de
nossas vidas: leituras bíblicas, cantos, a prece “Vem Senhor Jesus”, a cor roxa
ou rosada, a coroa de advento, as antífonas do Ó. Ouvindo a promessa da plena
realização do Reino de Deus, cresce a expectativa e podemos afirmar
confiantes: “um outro mundo é possível”. Cheios de esperança suplicamos: “Venha
a nós o vosso Reino” e atendemos ao convite para a vigilância e a espera ativa,
preparando os caminhos do Senhor". (Ione Buyst)
No primeiro domingo somos
convocados a atitudes bem concretas diante da vinda do Filho do Homem:
levantar, erguer a cabeça, tomar cuidado, ficar atentos. Ou seja, é preciso
ficar de pé diante do Filho do Homem.
São Bernardo, abade (sec. XII),
num de seus sermões, dizia: “Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor. Entre a
primeira e a última há uma vinda intermediária. Aquelas são visíveis, mas, esta
não. Na primeira vinda, o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens.
Foi então, como ele próprio declara, que o viram e não o quiseram receber. Na
última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele que
transpassaram (Zc 11,10). A vinda intermediária é oculta e nela somente os
eleitos o vêem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira, o Senhor veio
na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o
poder de sua graça; na última, virá com todo o esplendor da sua glória. Esta vinda
intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na
primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na
intermediária é nosso repouso e consolação”. (Liturgia das Horas, vol. I, p.
137-138)
O Senhor virá e a melhor maneira
de manter a espera vigilante é por meio do amor e da oração constante. A
vigilância é uma atitude existencial e libertadora que se manifesta na
esperança ativa, na fé no trabalho, nas relações humanas de cada dia, no
compromisso para com a justiça do Reino. É apelo a viver um amor universal
transbordante, que leva a construir um mundo novo de paz e fraternidade.
A comunidade de fé, movida pela
esperança, reza e clama: “venha a nós o vosso Reino”, “vinde Senhor Jesus”. Na
verdade ele já está no meio de nós, mas nos comprometemos como Ele para que
tudo possa ser plenamente transformado, segundo a vontade de Deus.
É na tensão do “já” e do “ainda
não” que celebramos, alimentando-nos da Palavra e da Eucaristia para termos
coragem de erguer do chão tudo o que está abatido.
Dom Mauro Montagnoli
Bispo diocesano de Ilhéus
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